segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os (meus) momentos mais deprimentes da história do futebol

Futebol é coisa séria. Faz parte do amadurecimento do homem e molda o caráter através experiências emocionais devastadoras, sejam elas de alegria extrema ou traumas insuperáveis. Mas não é disso que eu vou falar, e sim daqueles momentos tão ridículos, apáticos e desprezíveis que te fazem, ao menos por uma fração de segundo, questionar sua própria sanidade por gastar seu tempo assistindo 22 caras brigando por uma bola, e não com algo mais importante.

Apreciar a fina arte do Pole Dance, por exemplo.

São Paulo empata no último minuto... com um gol impedido... de André Lima

Jogo: São Paulo 2 x 2 Atlético PR, Campeonato Brasileiro 2009.

O jogo valia pela 2° rodada do campeonato. O São Paulo vinha jogando muito mal, e o Atlético pior ainda. Cheguei atrasado ao Morumbi, o que me impediu de ver Hernanes perder um gol sem goleiro.

O que se viu depois foi o time da casa trocando passes a esmo, criando jogadas inúteis e servindo contra-ataques. As arquibancadas estavam quase desertas e fazia frio. O Atlético esteve na frente por duas vezes. Um sujeito quis me vender um picolé por 4 reais. 4 REAIS POR UM PICOLÉ.

Nos acréscimos, após uma cobrança de falta, André Lima, vergonhosamente impedido, empurrou a bola pra dentro do gol. Foi constrangedor comemorar aquele gol.

A ocasião não poderia exigir melhor herói.

Quando ficou realmente deprimente?

Quando eu penso que foi a última partida que eu vi com Muricy Ramalho no comando do time. Você pode ou não gostar dele, mas tem que admitir que ele faz parte da história do clube. E aquilo não foi um bom jeito de se encerrar uma história

Poderia ser pior se...

O São Paulo tivesse perdido com um gol de Rafael Moura, que acertou uma bola na trave no começo do jogo.

Romário dá bolo e não sobra muita coisa pra se ver

Jogo: São Caetano 1 x 2 Vasco da Gama, Campeonato Brasileiro 2005

Romário é um dos meus heróis de infância. Eu tinha 7 anos na Copa de 94 e aquilo foi FODA. Sempre que eu tinha a chance de ver o baixinho jogando eu aproveitava, mesmo quando ele já estava no final de carreira. Em um domingo de Sol, fui ao Anacleto Campanella ver o cara. Fiquei decepcionada ao saber que ele não veio pro jogo, por que a viagem era muito longa. Com isso, basicamente eu apenas assisti a um jogo horrível.

Os dois times eram bem ruins e o gramado era péssimo. Não faltava vontade aos jogadores, mas eles não tinham muito mais do que isso. Além de ver aquele espetáculo, tive que agüentar um moleque corintiano pentelho fazendo festa na minha frente. O Alto-falante não parava de anunciar gols do Corinthians, que venceu o Santos por 7 x 1 naquele dia.

Quando ficou realmente deprimente?

Quando o Alessandro foi substituído, ele foi vaiado por toda a torcida do São Caetano. Enquanto ele descia para o vestiário, um senhor de uns 200 anos subiu no alambrado e começou a chacoalhar uma nota de um real e xingar o jogador de mercenário. Vendo aquela cena, imaginei a debilidade mental que o futebol pode reservar para mim, após anos de abuso.

Eles não acertam nenhum passe. Nunca.

Poderia ser pior se...

Tivesse chovido e toda Bengala Azul pegasse pneumonia.

Falta de noção de espaço e desconhecimento das regras custa uma classificação

Jogo: 2°A 2 X 3 2°B, Interclasses 2003 da ETE Jorge Street

Eu era goleiro de Futsal no colégio. Não era grande coisa, mas não passava vergonha. Quando nós fomos disputar o campeonato de futebol de campo eu iria jogar na linha, mas nosso goleiro titular não apareceu. Lá fui eu, tentar defender aquele gol absurdamente grande e totalmente injusto comigo.

Era assim grande e eu nem tinha um elefante

Após um bom primeiro tempo, em que saímos na frente e eu fiz algumas defesas, a merda começou a foder na segunda etapa. O atacante adversário deu um chute cruzado despretensioso, eu acompanhei a bola com os olhos esperando ela sair e ... gol. Maldito gol gigante.

Depois tomei outro gol numa cagada da defesa, mas nada demais. Então, numa cobrança de lateral adversária, o meu zagueiro parou e... pediu impedimento. Se você remotamente já ouviu falar que existe um jogo chamado futebol, você deve saber que NÃO EXISTE IMPEDIMENTO em cobrança de lateral. O idiota me deixou sozinho com dois atacantes dentro da área. 3 X1.

Quando ficou realmente deprimente?

Fui substituído no finzinho e do banco de reservas eu vi um atacante nosso roubar a bola das mãos do goleiro adversário com um tapa e marcar o gol. O juiz não viu a falta e validou o lance mais retardado da história e estava decretado um humilhante desfecho para a nossa campanha.

Seria pior se...

Meu pai estivesse assistindo.

Torcedor do Palestra São Bernardo faz manifestação racista mais pitoresca da história

Jogo: Palestra de São Bernardo 1 x 0 Elosport, Série B do Campeonato Paulista 2007

Era sábado, nove da manhã, e eu acordei meio bêbado, meio de ressaca, e totalmente lesado. Então eu pensei, por que não aproveitar essa manhã e ver o meu time local?

Três torcedores da organizada do Palestra e umas dúzias de pessoas tiveram a mesma idéia. E o Estádio Primeiro de Maio, que já recebeu as maiores manifestações sindicais e anti-ditadura da história, recebia agora um dos jogos mais bisonhos do universo.

O Palestra dominou todo o jogo, o que significa que os chutões do time do ABC eram um pouco menos ineficazes que do adversário. Eu, acompanhado de uma garrafinha de água, fui recuperando minha sobriedade ao longo do jogo, o que significa que ele foi ficando menos interessante a cada minuto. Os principais lances do jogo foram:

O gol, em que o atacante do Palestra acertou a bola com as travas da chuteiras, fazendo com que a bola fosse pingando inexplicavelmente para dentro da rede.

Uma voadora por trás que o zagueiro do Palestra acertou no lateral do... Palestra, que teve que ser substituído.

Uma saída de bola errada do goleiro do Palestra que quase levou um gol. O equivoco causou uma reação enfurecida de um senhor ao meu lado que bradou injurias racistas para o jovem goleiro negro. Depois eu descobri que aquele senhor era o pai dele.

Quando ficou realmente deprimente?

Antes do jogo começar, tinha dois garotos na minha frente conversando. Então um gandula surgiu na beira do gramado e gritou para um deles: “Renato. Ta com RG aí?”, o garoto respondeu que sim. “Então desce, que o treinador precisa de alguém pra completar o banco!”. Mano, se um torcedor é chamado pra jogar e você não está em um filme da Disney, é melhor não esperar grande coisa.

Mais retardado do que isso

Poderia ser pior se...

Eu tivesse pagado para entrar.

Um ingresso causa um engavetamento em Santo André

Jogo: São Paulo 1 x 0 Estudiantes, Copa Libertadores da America 2006

Não foi o jogo em si, que foi animal e uma das minhas maiores experiências em um estádio (ver o São Paulo se classificar para uma semifinal de Libertadores após uma disputa de pênaltis) e sim o dia da compra do ingresso.

As entradas para o jogo estavam sendo vendidas no Estádio Bruno José Daniel, em Santo André. Peguei carona com um colega de trabalho e lá me deparei com uma fila gigantesca. Ok, sem problemas, o Sol ta de rachar, eu vou perder a disputa do 3° lugar da Copa do Mundo, mas tudo pelo Tricolor.

Na fila, travei conhecimento com um velho que, eu diria, era levemente senil, mas gente boa. Eu contei que não sabia voltar dali pra um lugar que passasse ônibus e ele disse que me daria carona até o centro, Ok, boa.

Após duas horas e meia de fila eu chego no guichê e peço meu ingresso. Eu não estudava na época e não tinha carteira pra pagar meia. “Uma inteira, arquibancada amarela”, eu peço e a caixa sorri incrédula: “Inteira? E você pegou essa fila toda? Aqui é só meia, inteira era só ir ali”. Eu olho para o lado e vejo um guichê com uma fila de 2 pessoas. Ok, uma merda, mas ninguém me avisou, o que eu ia fazer? Pelo menos peguei o ingresso.

A iluminação de ser Office Boy

Ingresso comprado, pego minha carona. No meio de um viaduto, o velho simplesmente para o carro e diz: “Aqui é melhor pra você descer, vai lá”. No momento em que eu desço do carro e tento patéticamente desenroscar minha blusa da porta, eu escuto o barulho de uma freiada e de vidro se quebrando.

Enquanto eu tento atravessar uma pista expressa, motoristas passam me xingando. Mais atrás eu vejo pessoas avaliando danos e trocando telefones. Ok, não é uma boa ficar aqui. Saio correndo pelo acostamento e só para quando chego em uma avenida movimentada.

Quando ficou realmente deprimente?

Uma vez no Centro de Santo André eu percebi que não conhecia nada daquela cidade. Após vagar pelas ruas pedindo informação, uma mulher em um ponto de ônibus ficou com dó de mim e me levou até a estação. Lá estava eu, 19 anos de idade, sendo guiado como uma criança perdida por ruas desconhecidas, amaldiçoando o velho pirado e temendo ser reconhecido por algum motorista enfurecido.

Poderia ser pior se...

Eu tivesse passado por isso para comprar ingressos para a final da Copa do Brasil de 2000, entre Cruzeiro e São Paulo, o jogo mais maldito da história. Suponho que se eu tivesse sido atropelado seria meio chato também.

2 comentários:

  1. TU VAI VER JOGO DO PALESTRA E QUER O QUE? CARAIO...MAS RESPEITE O AZULAUM

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  2. Você só teve o que mereceu. E pensar que eu estava nesse jogo com o Furacão .. mel dels.

    Isso que vc nem colocou o jogo em que o dagoberto fez dois gols, sendo um deles em uma bolada do goleiro. Meu deus, esse SPFC tá bizarro.

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