quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Como arruinar sua popularidade em 12 meses

Eu vi Gilberto Kassab na Câmara Municipal na semana passada. Ele tinha ido participar de um debate sobre reciclagem energética em São Paulo e na saída passou a dois passos de mim. Me chamou a atenção o ar abatido do sujeito que ganhou fama, entre outros motivos, por seu pulso firme em discussões contra a indústria publicitária, manifestantes com nome de cerveja e proprietários de casas de diversão.


Foi difícil decidir por quem torcer nessa disputa.

Bom, acho importante destacar que isso aconteceu 24 horas antes da coletiva que ele deu a respeito da catastrófica enchente que atingiu a cidade. Ali sua expressão evoluiu de um “Por que esse ano não acaba logo” para um “Meu Deus, POR QUE ISSO TÁ ACONTECENDO COMIGO?”.

E por que isso aconteceu com ele? Há pouco mais de um ano Kassab era reeleito com 60% dos votos válidos do segundo turno. Seu indicie rejeição era baixíssimo e a maioria da população considerava seu mandato ao menos não- tão-horrível. Além disso, ele passava a imagem de um cara limpo e distante de politicagens e tramóias partidárias. Era um outsider fazendo o que devia ser feito. A patética campanha eleitoral de Marta Suplicy, que tentou minar a popularidade do sujeito através de boatos apenas facilitou as coisas pra ele.

Então 2009 chegou e, rapaz, as coisas ficaram estranhas. Agora vamos recapitular as atitudes mais suicidas, autoritárias e simplesmente retardadas que levaram o glorioso caçador de VAGABUNDOS à lama do Tiete.

E isso não é uma metáfora

Fretados? Acho que não...

Essa medida foi tão cretina que eu fico sem palavras. Com vocês, a Prefeitura:

Começa a vigorar em São Paulo nesta segunda-feira (27/07) a Zona Máxima de Restrição à Circulação de Fretados (ZMRF). As mudanças devem melhorar em 11% a fluidez do trânsito dentro da ZMRF, embora em algumas vias onde havia grande circulação de fretados a melhora poderá ser maior. A medida tem como objetivo organizar a circulação desses veículos, para oferecer maior conforto para passageiros e maior fluidez ao trânsito. A ZMRF engloba uma área de 70 quilômetros quadrados de restrição para a circulação dos ônibus fretados. A proibição terá um horário específico: de segunda-feira à sexta-feira, das 5 horas às 21 horas.

Ah, provavelmente ninguém nem anda por aí...

Ok. Então você quer melhorar as condições de transporte da população, além de restringir a poluição do ar. Então o que você faz? Proibi empresas privadas de levar pessoas confortavelmente ao seu trabalho, faz um monte de gente tirar o carro da garagem, satura o transporte público, aumenta a demanda por veículos e muito provavelmente coloca ônibus velhos nas ruas pra compensar? É, acho que essa é a idéia.

A maioria das pessoas não sacou isso e não viu muita barganha em trocar um ônibus leito com ar condicionado por três baldeações e muita bolinação. Um bando de caretas egoístas, eu sei, mas o ser humano é assim.

Pense nisso como uma grande micareta

O pior de tudo foi a forma arbitrária que a medida foi imposta. A população não foi ouvida, afinal, por que os maiores afetados pela lei deveriam entender alguma coisa sobre o assunto? E não só eles, por que especialistas em trânsito deveriam entender também? É isso mesmo, uma das principais críticas ao projeto foi a falta de estudo em relação às área de restrição, impacto no trânsito e no funcionamento do transporte público.

Ok, nós inventamos tudo, mas foi pelo bem de vocês... e da natureza!

Caos? Onde?

Esse foi um ano especialmente chuvoso em São Paulo. Não podemos culpar o prefeito por isso. Mas você sabe, admitir que a coisa tá feia, dizer que medidas estão sendo tomadas e ao menos visitar a população pra dar um helps na galera seriam coisa dignas. Kassab não fez nenhuma delas. De fato, ele disse que não havia caos, só tinha chovido muito e o que tinha de ser feito já estava feito, e muito bem feito.

É COMO VIVER EM VENEZA, SEUS ESTÚPIDOS!

Aparentemente, Kassab tem um conceito complexo sobre o caos. Segundo ele “houve situações difíceis, o Tietê transbordou, mas era uma situação especifica e todos sabiam o que estava acontecendo e pra onde tinham de ir. O caos é diferente. O caos é o caos”.

Sem problemas, eu sei EXATAMENTE o que está acontecendo

Pessoas que ficaram 7 horas no trânsito, tiveram suas casas invadidas pela água ou viram seus bairros se tornarem uma versão urbana do pantanal acharam um pouco de falta de sensibilidade dizer uma coisa dessas. Depois elas descobriram que a prefeitura gastou mais em propaganda do que em medias anti-enchentes. Ai ficou tudo beleza.

Aumento de impostos? Como pode dar errado?

Impostos. O maior vespeiro que um político pode enfiar sua cabeça. Não importa se por um motivo justo ou não, você vai sair queimado. Existe um velho jargão que Kassab demonstrou desconhecer que diz “nunca aumente impostos aleatoriamente, seu retardado cretino”.

Talvez no pior movimento de seus dois mandatos, o prefeito decidiu reavaliar os critérios de cobrança de IPTU do município. Não haveria nada de errado com isso, desde que houvesse coerência nessa reavaliação de acordo com o reajuste da inflação, com os preços do mercado de imóveis e a valorização de certas regiões da cidade. Novamente, confiante em sua capacidade de onisciência, Kassab ignorou essas bobagens e sugeriu um aumento genérico, que entre outras coisas acabou por deixar o imposto da região da Cracôlandia mais caro do que nos Jardins.

Os benefícios da máquina tributária já podem ser notados

Ninguém achou isso legal. Da ZL ao Morumbi, ninguém curte impostos. E o prefeito ganhou o carinhoso apelido de Taxab. Lembram-se da Martaxa? Lembram-se de como aquela história acabou? É um fato, paulistanos podem viver, literalmente, flutuando sobre um mar de leptospirose por dias com relativa paciência, mas não toleram que alguém envie uma conta a mais pra pagar.

Estou fazendo um bom trabalho? Me diga enquanto eu aumento meu salário

Ok, tem outra coisa que as pessoas odeiam. Quando políticos aumentam o próprio salário. É motivo de linchamento. Especialmente quando isso é feito ao mesmo tempo em que os impostos sobem e os gastos com a população são cortados.

A proposta de aumento foi tão obscena, que os vereadores ficaram constrangidos em votar e pediram o adiamento da pauta. Isso inclui não só vereadores da oposição, mas também da base aliada. Eles argumentaram que o momento não era bom. Sabe, com toda aquela água da enchente que ainda não baixou e aumento de impostos que a gente acabou de aprovar. Então a votação foi suspensa. E galera foi jogar bola.

Os vereadores de Guarulhos ganharam por 2x0

Então, por que tudo isso aconteceu com ele?

Não acho que foi uma atitude “agora que eu fui reeleito, vou botar as manguinhas de fora”. O que eu vejo no Kassab é uma imperícia política, parecida com a do padrinho dele, José Serra. Talvez ele não seja mal intencionado, mas não sabe lidar com opositores, críticas externas e nem ouvir outros pontos de vista. Ele governa São Paulo como se fosse um sindico de um condomínio esnobe. O que eu penso disso? Se fode ai paulistano e pague seu voto. Eu moro em São Bernardo.

E me invejem, o meu vice-prefeito é esse cara

domingo, 29 de novembro de 2009

Esboços, rascunhos e um monte de lixo que provavelmente não significa nada.

Galera, eu fiquei um tempão sem postar nada por aqui. Eu até tentei escrever algumas coisas, mas nenhum texto satisfez meu critério de nunca publicar merda. É por isso que, seguindo a lógica do teorema do macaco infinito*, eu resolvi juntar todos os esboços e transformá-los em um único grande texto. Apreciem!

* pesquisem na Wikipédia.

Terríveis verdades por trás de doces memórias infantis

Você se lembra da decepção que sentiu ao descobrir que a Vovó Mafalda era um homem? É um trauma de muitas pessoas da minha geração. Eu particularmente fiquei muito mais chocado quando descobri que os peixinhos do Glub-Glub eram uns sujeitos adultos usando uma máscara idiota.

Tirem essa imagem da minha cabeça!

A verdade é que a infância é um período de inocência e sonhos que serão impiedosamente esmagados ao longo dos anos. Alguns ícones dos meus tempos de criança se revelaram tremendos emaranhados de perversidade e corrupção.

Eu me refiro a coisas menos óbvias

Outro dia, enquanto embaralhava as cartas do Jogo do Mico, eu comecei a me sentir deprimido. Olha pra essa merda. Você tem uma floresta e todos os animais têm um par, menos o Mico. Ele é claramente um sujeito mentalmente perturbado, autodestrutivo e emocionalmente instável. E o que fazem por ele? O excluem como um pária. Ninguém tenta o escutar ou ajudar. Ninguém dá a mínima.

Pare de machucar a si mesmo e aos outros!

Pra continuar com primatas, outra coisa que marcou minha infância foram quadros esdrúxulos de macacos vestidos com roupas humanas. Você já deve ter visto um desses, aparecem chimpanzés vestidos de barman, boxeador e coisas do tipo.

Astronautas, por exemplo.

Eu achava aquilo hilário. Claro que aos cinco anos de idade é difícil realizar que macacos não gostam de usar roupas e aquilo era simplesmente um caso de tortura animal. Tortura animal não é hilário OK.

Por outro lado, tortura de crianças humanas...

Outra descoberta nojenta foi quando percebi o lixo preconceituoso que o adorável “Jogo da Vida” prega. O maldito tabuleiro é o maior panfleto reacionário da história.

Lixo ideológico

Não faça faculdade e seja condenado a sub-empregos o resto da vida. Você TEM QUE SE CASAR E TER FILHOS. E é claro, o vencedor do jogo é quem ganhar mais dinheiro. Pra completar o cenário infame, a frase que abençoa o derrotado:

“Você foi à falência. Vá morar numa fazenda e se aposentar como filósofo”.


Sugestões de Pauta

- Uma história em quadrinhos parodiando um filme policial estrelando figuras políticas brasileiras. A dupla de tiras seria José Serra, durão, intransigente e truculento, e Lula, carismático, irreverente e com um certo desdém pelas regras. O clássico bom tira/mau tira. O vilão seria Alckmin, um ex-policial que pirou e quer se vingar da policia para justificar suas ideologias ridiculamente estúpidas. José Alencar seria o delegado. Kassab um coadjuvante irritante. Ciro Gomes um policial esnobe. Sergio Cabral um imbecil

Por que eu não fiz isso? Não sei usar o Photoshop.

- Artigo “Os mais insanos sites pornográfico da internet”. Listar os sites com os temas mais bizarros, os fetiches mais ofensivos e sem sentido. Fazer comentários engraçadinhos e colocar imagens com legendas SUPER ENGRAÇADAS a cada dois parágrafos.

Por que eu não fiz isso? Eu meio que me distraí na hora da pesquisa... Er, quer dizer, eu achei que não era uma boa idéia.

- Artigo “O que eu aprendi sobre democracia trabalhando na Câmara”. Seria uma retrospectiva de eventos que presenciei durante meu estágio na Casa Legislativa de São Paulo, pontuado por comentários críticos sobre os processos políticos brasileiros.

Por que eu não fiz isso? Eu fiz e ficou ótimo. Só que eu ainda trabalho lá e não quero ser demitido pelas minhas opiniões levemente ofensivas sobre certas coisas. Não é como se eu tivesse me corrompido, eu apenas me silenciei em troca de dinheiro.


Listas, listas, listas...

Todo mundo gosta de listas, certo?

Motivos por que G.G Allin foi o verdadeiro rei do rock

10. Ele jogava merda em quem não gostava dele

9. Ele jogava merda em quem gostava dele

8. Ele fazia punk, pop, trash, country e ruídos de qualidades

7. “Drink, fight and fuck” é a música mais fudida da história da porra do mundo

6. A sua versão de “Pick me up on your way down” é linda de chorar

5. SEXO, DROGAS, MUTILAÇÃO E VÔMITO

4. Hated é um documentário foda

3. Ao contrário do Johnny Cash, ele cumpriu pena de verdade,

2. Seu show final é a maior atrocidade já filmada

1. Bite It, Your Scum

Meus gatos de estimação através da história

8. Farinha (1990 -95) Bom de briga, morreu por causa de uma delas

7. Felício (1996-96) Ficou duas semanas em casa. Babacão.

6. Juan (1997-97) Piradaço, sabia dar cambalhotas. Sumiu com uns sete meses e isso foi triste.

5. Lestat (1997) Sobreviveu a uma treta com um labrador. Ta vivão ainda.

4. Lucrecia (1997-2005) Tinha medo de abacates. Morreu por ser a coisa mais fofa do mundo. E de câncer.

3. Bituca (2002) A gata mais falante que já existiu. Sabe até latir. Tá dormindo no sofá.

2. Lancelot (2003) Gato persa. Dá a pata quando eu mando. Ta no meu colo no momento em que eu digito isso.

1. Petita (1995-99) Tecnicamente era uma cachorra, mas merece a menção. Está em algum lugar do céu dos cachorros, latindo com uma bola de tênis na boca.


Memórias do EMEI São Pedro

No terceiro ano eu era apaixonado por uma menina chamada Silvy ou algo assim. Eu subia no alto do trepa-trepa e pulava lá de cima. Eu era o único que tinha coragem. Eu era o que conseguia ir mais alto no balanço. Fazia tudo isso só pra impressioná-la, mas ela nem ligava. Quando a gente brincava de pega-pega, eu a deixava fugir de propósito. Ela me chamava de “branquelo leite-ninho”, mas eu ficava feliz só por ela estar falando comigo. Até que um dia ela disse que minha escultura de massinha era feia e boba. Na saída eu joguei uma pedra nela e ela chorou. Não amadureci muito desde então.

- FIM -

É isso OK? Semana que vem eu prometo um texto menos picareta

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Como os presidentes da redemocratização alteraram o curso da história (de Ricardo Casarin)

Democracia. Não é exatamente uma tradição nacional, mas nós já temos uma história razoável de eleições diretas, mandatos decepcionantes e bueiros entupidos por santinhos. Em nasci em 1987, o que significa que vivi sob o mandato de cinco presidentes diferentes. Agora iremos analisar como as decisões tomadas nestes governos afetaram, não o bem-estar da nação, mas os meus próprios interesses, não importando quão mesquinhos eles fossem.

Lula me obriga a deixar a marginalidade (ou quase isso)

Não sou exatamente um marginal. Eu sou mais um preguiçoso, e minha preguiça vai além de não gostar de acordar cedo e lavar a louça, ela inclui o desdém por possuir bens, contas bancárias, trabalho registrado e documentos.

Apenas um rapaz informal

Então tinha 20 anos, carteira de trabalho em branco, toda a grana que eu possuía estava no bolso de trás da calça e não me importava muito com nada disso. Eis que o presidente Luis Inácio da Silva assina a polêmica Lei do Estágio, garantindo a redução salarial de muitos jovens trabalhadores honestos, mas também forçando sujeitos como eu a ter um pouco de dignidade.

Quando eu consegui um emprego, tive que abrir uma conta bancária, assinar papéis que provavelmente significavam algo importante, emitir documentos, cartões, vales, e uma vez por mês eu me retorço e faço caretas ao ler meu extrato, exatamente como as pessoas adultas e responsáveis fazem.

Saldo final

É legal não correr o risco de ser enterrado como indigente ou de tomar um esporro da policia ao levar um enquadro e mostrar uma carteirinha do fã clube do Sonic na falta de um documento melhor, mas eu sinto um pouco de saudades daqueles tempos mais simples.

FHC me faz comprar o pior computador da merda do mundo

É 1999. Eu tenho 11 anos e não quero nada desse mundo a não ser um computador. Eu não tenho mais paciência para brincar de Playmobil, talvez de Lego, mas com certeza meu Mega Drive já está meio ultrapassado.

Minha mãe finalmente atende meus pedidos irritantes e fecha um orçamento de um PC firmeza, quando a catástrofe acontece. O dólar dispara, tudo fica caro e o mano da loja de informática não quer mais vender nada.

Na época eu acreditava que era apenas Deus me castigando por ter comido uma hóstia sem me confessar (Poxa, eu só queria me enturmar na paróquia), mas depois eu descobri que em uma manobra eleitoreira, o presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o valor do dólar baixo até não poder mais, o câmbio explodir e a merda toda fuder tudo (essa analise é tão profunda quanto foi a dele na época)

O resultado disso é que acabei comprando um computador em um supermercado, e Jesus, isso foi um erro. O PC se revelou o pior pedaço de lixo já produzido pelo reino dos minerais. Era lento, instável e dava pau a cada cinco minutos. Baixar uma música demorava dias. Eu nunca consegui desligar o computador direito. Ele simplesmente travava a hora que ele queria, não importava o que eu estivesse fazendo.

Sinto muito, mas não posso permitir que você jogue FIFA.

Após QUATRO ANOS como aquele pedaço de metal imprestável, a situação chegou a um ponto trágico. Depois de nove tentativas de instalar o Kazaa, todas abortadas pela máquina maldita, eu tive um reação quase razoável: atirei o computador na parede. Quando fui religá-lo, aconteceu um curto circuito e a porra pegou fogo. Mil espíritos atormentados emergiram das chamas e garras infernais arrastaram a carcaça de silício para uma eternidade de horrores. A minha mãe também me deu uma puta bronca.

Saldo Final

Puta merda. Além do prejuízo, eu desenvolvi uma raiva crônica contra eletrodomésticos. Basta uma torradeira atrasar meu lanche, e eu começo a bater com a cabeça nela. O lado bom é que eu desenvolvi um senso critico para comprar as coisas, mas sinto que meia década de tortura tecnológica não era necessária para isso.

Itamar introduz um sistema monetário inteligível para uma criança de 6 anos

Ok, eu sei. O autor do Plano Real é o FHC, mas ele foi introduzido no governo Itamar Franco, então foda-se. O lance é que eu tinha cinco, seis anos e não tinha a menor idéia do que as etiquetas do supermercado queriam dizer. Eu não entendia o que as notas que minha avó me dava significavam. O que eram todos aqueles zeros? Puta merda, 35 000 cruzeiros, o que é isso? E eu nem era burro. As crianças do parquinho faziam rodinhas pra me assistir a contar até cem, por que eu era o único da turma que conseguia.

Desde 1992, um exibicionista

Então um dia a professora da 1° Série aparece com uma nota verde com um ‘1’ estampado e explica como lance funciona. É tão simples! Números que eu conheço! A maior nota é 100! Agora eu sabia exatamente quantos Kinder Ovos eu podia comprar com o dinheiro do lanche.

Saldo Final

Muito bom. Eu e uma geração de fedelhos nos tornamos consumistas ativos aos sete anos e poderíamos contestar nossos pais na hora em que alguma compra desejada fosse negada. Espera... er, isso parece meio perverso... pensando bem.

Collor arruína o natal, mas garante a diversão de ano-novo

Ah, Fernando Collor. O mais jovem presidente da história. Primeiro a ser eleito por voto direto após a ditadura, o que já seria um belo argumento contra a democracia no Brasil, sem precisar levar em conta que o último tinha sido Jânio Quadros, um homem que acreditava que a caspa era um bom cabo eleitoral.

Forças ocultas operavam a sua mente, isso sim.

Graças ao fracasso completo do Plano Collor, o país entrou em recessão. Meu pai foi demitido das Tintas Ypiranga e isso foi uma merda total. Todo natal eles davam brinquedos pra mim e pra minha irmã. Eu ganhe um triciclo sensacional no último ano. Com meu pai desempregado e a poupança seqüestrada, o Natal não foi exatamente um festival de presentes.

Mas houve uma compensação. Às vésperas do ano-novo, rolou a votação do impeachment no Congresso. Foi um dos dias mais divertidos da minha infância. À tarde eu fui a uma manifestação “Fora Collor” no centro de São Bernardo. Eu ganhei bexigas, bandeirinhas, fui incentivado a berrar xingamentos e ainda vi um carro alegórico com um bonecão do Collor na lata do lixo. Foi um carnaval.

À noite, a votação foi transmitida pela televisão, e eu só veria algo parecido alguns anos depois, na final da Copa do Mundo. Eu não sabia direito o que estava acontecendo, só que era bom quando alguém gritava ‘SIM’ no microfone e muito ruim quando alguém dizia ‘NÃO’. No final, os bons venceram, teve fogos de artifício e um monte de gente feliz. Boas lembranças.

Saldo Final

Foi bom. Uma bela lembrança infantil. E eu não tenho a menor idéia de como foi o natal naquele ano, então não houve traumas. Meu pai arrumou um emprego e tudo terminou OK.

Sarney é basicamente o responsável pela minha existência

1986. O caos reina. A inflação bate recordes. A vida é difícil. Minha mãe quer ter mais um filho. Meu pai diz: “Você tá louca”. A história poderia ter acabado aí, mas do Planalto surge algo – O PLANO CRUZADO. Dinheiro começa a ser imprenso adoidado, todo mundo no Brasil fica rico! Meu pai não tem mais argumentos. O milagre da vida acontece. OI MUNDO.

Seria uma bela história de como um governo bem gerido afeta positivamente a vida dos cidadãos comuns, mas é isso aqui é BRASIL. O Plano Cruzado do presidente Sarney foi uma furada. A produção não acompanhou o aumento no poder aquisitivo da população. Os produtos ser tornaram escassos. A inflação voltou. Mas aí, eu não podia voltar junto.

Saldo Final

Essa é uma questão existencial, certo? Nietzsche dizia que a pior coisa que pode acontecer a um homem é nascer. Minha vó dizia que viver é uma benção. Sei lá, eu poderia ficar com as duas opções. Sem dúvida, dever a própria vida a José Sarney é uma situação um tanto quanto dúbia.

O legado econômico brasileiro dos anos 80

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Exclusivo: Veja trechos do meu novo livro!

Lei seca, PSIU, prostíbulos fechados, lei antifumo, ações policiais na Cracolândia... Meu amigo, como está difícil se divertir nesta cidade! Foi pensando nas injustiças que o boêmio paulista está enfrentando, que resolvi pesquisar recursos para que nenhum governo autoritário possa atrapalhar sua diversão. Aqui apresento meu novo lançamento:


Para mostrar do que se trata este trabalho, disponibilizarei alguns trechos do livro.

Dica n°1 - Bares fechados? Faça sua própria festa! (na casa de um estranho)

A lei do PSIU, que proíbe que bares sem isolamento sonoro funcionem durante a madrugada, além de uma série de fiscalizações a estes tipos de estabelecimentos, tornaram algumas noites paulistanas um pináculo de tédio e desperdício. É verdadeiramente uma situação traiçoeira: Não há mais transporte público disponível e você está bêbado demais para dirigir para outro lugar, mas não o bêbado o suficiente para encerrar a noite! O que fazer então para dar continuidade aos rituais dionisíacos sem quebrar a lei?

A resposta é uma só: Cortesia. Esta não é a solução para todos os problemas da vida? Basta uma ação simples. Identifique o velho bêbado solitário do bar em que você se encontra. Todos os bares têm um desses, é garantido. Puxe assunto com ele, pague uma cerveja, o enturme com seus amigos.

Quando chegar a hora do bar fechar, lamente o fato de não haver outro lugar para continuar os festejos e pronto! O homem solitário irá oferecer sua própria casa para receber a todos! Depois só resta uma parada no mercado ou loja de conveniência mais próxima e botar para quebrar! É diversão na certa e também uma boa ação. Esta será uma noite inesquecível para a alma desesperada por companhia do seu anfitrião!

Observação: É altamente recomendável tentar este recurso APENAS quando acompanhado por mais amigos. Seguir esta dica quando sozinho pode ser interpretado como uma ação de natureza sexual pelo indivíduo abordado.

Dica n° 7 - Fumo de mascar: um hábito elegante e galanteador

A lei antifumo é de fato uma ação polêmica. Alguns concordam, por considerá-la uma defesa para a saúde publica. Outros a vêem como infame, uma ação arbitrária e covarde contra a liberdade individual. Bom, todo esse debate político pode ser interessante, mas é inútil. A lei está ai e nos resta cumpri-la. Mas isso não significa que você precise abrir mão dos prazeres da nicotina!

Então o segurança da balada é um chato que apaga todos os seus cigarros? A solução é o bom e velho fumo de mascar! Por que queimar o tabaco quando se pode esmagá-los de maneira suculenta com os próprios dentes? Também considere que cuspir uma gosma marrom é muito mais divertido do que soltar aneizinhos de fumaça!

E não se preocupe, seus dentes manchados e seu hálito forte não vão afastar as cantadas. Ao contrario, essa será sua nova arma para o jogo da sedução! Você encontrará gatinhas ou gatões maluquinhos por nicotina que estarão dispostos a experimentar essa nova onda.

Dica n° 19 - Alcoolismo responsável: Bebendo com discrição no transporte público

Não há o que negar: A lei seca está certa. Você pode discordar da severidade das penas, mas não da sua função. Dirigir bêbado não é uma boa! Mas não é por isso que você vai deixar de sair e se divertir! Também não vai ficar a mercê de taxistas inescrupulosos, que cobram preços altíssimos e ainda enganam os mais desavisados, fazendo caminhos mais longos do que o planejado.

Nada disso! O transporte público é o seu aliado! E por que, ao invés de usá-lo para ir à festa, não torná-lo a própria festa? Por R$2,55, o trem e o metrô se tornam a balada mais barato do Brasil!

Mas é preciso atenção! Existem câmeras nos vagões e estações, e beber nestes locai é proibido. E você não vai querer arrumar confusão com aqueles seguranças... Por isso coloque as bebidas alcoólicas em garrafas de refrigerantes, suco ou energéticos. Leve um celular com tocador de mp3, se eles servem para chatear os passageiros ao final de um dia de trabalho, devem servir para animar a noite!

Ligue o som e deixe a festa rolar, do Tucuruvi ao Jabaquara, de Rio Grande da Serra à Luz! Assim você estará a bordo da balada itinerante mais politicamente correta do Estado!

Dica 33 - Simule um prostíbulo em qualquer ambiente!

Então o prefeito não morre de amores pelas boates que oferecem a diversão mais antiga da civilização? Mas isso é motivo para você abrir mão de uma noite de farra um pouquinho mais picante? Claro que não! Com um pouco de planejamento e um orçamento moderado, você poderá recriar a experiência de uma casa noturna em qualquer ambiente. Pois convenhamos, abordar prostitutas na rua é um tanto quanto deprimente.

Para isso, basta encontrar algumas profissionais do sexo em alguma esquina da cidade. Estilo, faixa de preço e estética que você preferir. Se seu lance for travesti, bem, vá em frente, isso é um gosto seu.

Combine o preço por uma noite de diversão e rume para qualquer estabelecimento aberto! Baile da terceira idade? Redes de fast-food? O culto evangélico? O que você preferir para chimbar, assistir um strip e pagar uma bebida para uma mulher de nome fictício que você nunca mais irá ver na vida! Não abra mão deste direito! Afinal, só é ilegal explorar a prostituição, não se divertir com ela!

Dica 49 - PSIU! Hora da mímica alcoólica em vias públicas!

Todos os bares fechados e você não conseguiu arrumar um local para continuar a bebedeira? (ver Dica 1) Não há motivos para desespero! Por que não entrar no clima do PSIU e realizar competições de mímica nas praças e ruas da cidade? A lei faz referências estritas ao barulho, não a beber e realizar performances silenciosas em público!

Junte seus amigos e suas garrafas e dêem inicio a uma experiência teatral de expressividade muda, aditivada pela luz criativa do álcool. Realize imitações, enquanto seus amigos tentam adivinhar do que se trata, escrevendo as respostas em cartazes de papelões. Lembrem-se: Nada de gritaria! Mantenha o silêncio absoluto e sua madrugada cultural estará garantida!

***

EM BREVE NAS LIVRARIAS!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os (meus) momentos mais deprimentes da história do futebol

Futebol é coisa séria. Faz parte do amadurecimento do homem e molda o caráter através experiências emocionais devastadoras, sejam elas de alegria extrema ou traumas insuperáveis. Mas não é disso que eu vou falar, e sim daqueles momentos tão ridículos, apáticos e desprezíveis que te fazem, ao menos por uma fração de segundo, questionar sua própria sanidade por gastar seu tempo assistindo 22 caras brigando por uma bola, e não com algo mais importante.

Apreciar a fina arte do Pole Dance, por exemplo.

São Paulo empata no último minuto... com um gol impedido... de André Lima

Jogo: São Paulo 2 x 2 Atlético PR, Campeonato Brasileiro 2009.

O jogo valia pela 2° rodada do campeonato. O São Paulo vinha jogando muito mal, e o Atlético pior ainda. Cheguei atrasado ao Morumbi, o que me impediu de ver Hernanes perder um gol sem goleiro.

O que se viu depois foi o time da casa trocando passes a esmo, criando jogadas inúteis e servindo contra-ataques. As arquibancadas estavam quase desertas e fazia frio. O Atlético esteve na frente por duas vezes. Um sujeito quis me vender um picolé por 4 reais. 4 REAIS POR UM PICOLÉ.

Nos acréscimos, após uma cobrança de falta, André Lima, vergonhosamente impedido, empurrou a bola pra dentro do gol. Foi constrangedor comemorar aquele gol.

A ocasião não poderia exigir melhor herói.

Quando ficou realmente deprimente?

Quando eu penso que foi a última partida que eu vi com Muricy Ramalho no comando do time. Você pode ou não gostar dele, mas tem que admitir que ele faz parte da história do clube. E aquilo não foi um bom jeito de se encerrar uma história

Poderia ser pior se...

O São Paulo tivesse perdido com um gol de Rafael Moura, que acertou uma bola na trave no começo do jogo.

Romário dá bolo e não sobra muita coisa pra se ver

Jogo: São Caetano 1 x 2 Vasco da Gama, Campeonato Brasileiro 2005

Romário é um dos meus heróis de infância. Eu tinha 7 anos na Copa de 94 e aquilo foi FODA. Sempre que eu tinha a chance de ver o baixinho jogando eu aproveitava, mesmo quando ele já estava no final de carreira. Em um domingo de Sol, fui ao Anacleto Campanella ver o cara. Fiquei decepcionada ao saber que ele não veio pro jogo, por que a viagem era muito longa. Com isso, basicamente eu apenas assisti a um jogo horrível.

Os dois times eram bem ruins e o gramado era péssimo. Não faltava vontade aos jogadores, mas eles não tinham muito mais do que isso. Além de ver aquele espetáculo, tive que agüentar um moleque corintiano pentelho fazendo festa na minha frente. O Alto-falante não parava de anunciar gols do Corinthians, que venceu o Santos por 7 x 1 naquele dia.

Quando ficou realmente deprimente?

Quando o Alessandro foi substituído, ele foi vaiado por toda a torcida do São Caetano. Enquanto ele descia para o vestiário, um senhor de uns 200 anos subiu no alambrado e começou a chacoalhar uma nota de um real e xingar o jogador de mercenário. Vendo aquela cena, imaginei a debilidade mental que o futebol pode reservar para mim, após anos de abuso.

Eles não acertam nenhum passe. Nunca.

Poderia ser pior se...

Tivesse chovido e toda Bengala Azul pegasse pneumonia.

Falta de noção de espaço e desconhecimento das regras custa uma classificação

Jogo: 2°A 2 X 3 2°B, Interclasses 2003 da ETE Jorge Street

Eu era goleiro de Futsal no colégio. Não era grande coisa, mas não passava vergonha. Quando nós fomos disputar o campeonato de futebol de campo eu iria jogar na linha, mas nosso goleiro titular não apareceu. Lá fui eu, tentar defender aquele gol absurdamente grande e totalmente injusto comigo.

Era assim grande e eu nem tinha um elefante

Após um bom primeiro tempo, em que saímos na frente e eu fiz algumas defesas, a merda começou a foder na segunda etapa. O atacante adversário deu um chute cruzado despretensioso, eu acompanhei a bola com os olhos esperando ela sair e ... gol. Maldito gol gigante.

Depois tomei outro gol numa cagada da defesa, mas nada demais. Então, numa cobrança de lateral adversária, o meu zagueiro parou e... pediu impedimento. Se você remotamente já ouviu falar que existe um jogo chamado futebol, você deve saber que NÃO EXISTE IMPEDIMENTO em cobrança de lateral. O idiota me deixou sozinho com dois atacantes dentro da área. 3 X1.

Quando ficou realmente deprimente?

Fui substituído no finzinho e do banco de reservas eu vi um atacante nosso roubar a bola das mãos do goleiro adversário com um tapa e marcar o gol. O juiz não viu a falta e validou o lance mais retardado da história e estava decretado um humilhante desfecho para a nossa campanha.

Seria pior se...

Meu pai estivesse assistindo.

Torcedor do Palestra São Bernardo faz manifestação racista mais pitoresca da história

Jogo: Palestra de São Bernardo 1 x 0 Elosport, Série B do Campeonato Paulista 2007

Era sábado, nove da manhã, e eu acordei meio bêbado, meio de ressaca, e totalmente lesado. Então eu pensei, por que não aproveitar essa manhã e ver o meu time local?

Três torcedores da organizada do Palestra e umas dúzias de pessoas tiveram a mesma idéia. E o Estádio Primeiro de Maio, que já recebeu as maiores manifestações sindicais e anti-ditadura da história, recebia agora um dos jogos mais bisonhos do universo.

O Palestra dominou todo o jogo, o que significa que os chutões do time do ABC eram um pouco menos ineficazes que do adversário. Eu, acompanhado de uma garrafinha de água, fui recuperando minha sobriedade ao longo do jogo, o que significa que ele foi ficando menos interessante a cada minuto. Os principais lances do jogo foram:

O gol, em que o atacante do Palestra acertou a bola com as travas da chuteiras, fazendo com que a bola fosse pingando inexplicavelmente para dentro da rede.

Uma voadora por trás que o zagueiro do Palestra acertou no lateral do... Palestra, que teve que ser substituído.

Uma saída de bola errada do goleiro do Palestra que quase levou um gol. O equivoco causou uma reação enfurecida de um senhor ao meu lado que bradou injurias racistas para o jovem goleiro negro. Depois eu descobri que aquele senhor era o pai dele.

Quando ficou realmente deprimente?

Antes do jogo começar, tinha dois garotos na minha frente conversando. Então um gandula surgiu na beira do gramado e gritou para um deles: “Renato. Ta com RG aí?”, o garoto respondeu que sim. “Então desce, que o treinador precisa de alguém pra completar o banco!”. Mano, se um torcedor é chamado pra jogar e você não está em um filme da Disney, é melhor não esperar grande coisa.

Mais retardado do que isso

Poderia ser pior se...

Eu tivesse pagado para entrar.

Um ingresso causa um engavetamento em Santo André

Jogo: São Paulo 1 x 0 Estudiantes, Copa Libertadores da America 2006

Não foi o jogo em si, que foi animal e uma das minhas maiores experiências em um estádio (ver o São Paulo se classificar para uma semifinal de Libertadores após uma disputa de pênaltis) e sim o dia da compra do ingresso.

As entradas para o jogo estavam sendo vendidas no Estádio Bruno José Daniel, em Santo André. Peguei carona com um colega de trabalho e lá me deparei com uma fila gigantesca. Ok, sem problemas, o Sol ta de rachar, eu vou perder a disputa do 3° lugar da Copa do Mundo, mas tudo pelo Tricolor.

Na fila, travei conhecimento com um velho que, eu diria, era levemente senil, mas gente boa. Eu contei que não sabia voltar dali pra um lugar que passasse ônibus e ele disse que me daria carona até o centro, Ok, boa.

Após duas horas e meia de fila eu chego no guichê e peço meu ingresso. Eu não estudava na época e não tinha carteira pra pagar meia. “Uma inteira, arquibancada amarela”, eu peço e a caixa sorri incrédula: “Inteira? E você pegou essa fila toda? Aqui é só meia, inteira era só ir ali”. Eu olho para o lado e vejo um guichê com uma fila de 2 pessoas. Ok, uma merda, mas ninguém me avisou, o que eu ia fazer? Pelo menos peguei o ingresso.

A iluminação de ser Office Boy

Ingresso comprado, pego minha carona. No meio de um viaduto, o velho simplesmente para o carro e diz: “Aqui é melhor pra você descer, vai lá”. No momento em que eu desço do carro e tento patéticamente desenroscar minha blusa da porta, eu escuto o barulho de uma freiada e de vidro se quebrando.

Enquanto eu tento atravessar uma pista expressa, motoristas passam me xingando. Mais atrás eu vejo pessoas avaliando danos e trocando telefones. Ok, não é uma boa ficar aqui. Saio correndo pelo acostamento e só para quando chego em uma avenida movimentada.

Quando ficou realmente deprimente?

Uma vez no Centro de Santo André eu percebi que não conhecia nada daquela cidade. Após vagar pelas ruas pedindo informação, uma mulher em um ponto de ônibus ficou com dó de mim e me levou até a estação. Lá estava eu, 19 anos de idade, sendo guiado como uma criança perdida por ruas desconhecidas, amaldiçoando o velho pirado e temendo ser reconhecido por algum motorista enfurecido.

Poderia ser pior se...

Eu tivesse passado por isso para comprar ingressos para a final da Copa do Brasil de 2000, entre Cruzeiro e São Paulo, o jogo mais maldito da história. Suponho que se eu tivesse sido atropelado seria meio chato também.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Morte da Indústria Fonográfica (é boa demais pra ser verdade)

A noticia já é velha. Lily Allen anunciou que não irá gravar mais discos devido aos downloads ilegais de suas músicas. Reclamou que artistas milionários que lançam seus álbuns na internet de graça são uns babacas por que... não deixam ela ficar milionária também. É de partir o coração

Se eu ao menos pudesse a consolar

Mas aparentemente, alguns roqueiros milionários também estão insatisfeitos. O baixista do Kiss, Gene Simmons, declarou no ano passado que a banda não iria gravar um novo álbum enquanto os downloads ilegais continuassem, dando ao mundo um excelente argumento a favor da pirataria. Infelizmente, o segundo cara mais babaca do rock não cumpriu a promessa, e o Kiss pode lançar mais um álbum cretino.

Obviamente o mais babaca é o Paul Stanley

Nessa entrevista, Simmons declarou que a indústria fonográfica estava morta e os responsáveis por isso eram unicamente os fãs. Oh... tadinha dela. Quem dera fosse verdade. A idéia de uma massa de saqueadores despedaçando uma corporação capitalista é linda, mas irreal. A indústria fonográfica está viva e todos os argumentos contra downloads ilegais são pura bosta.

Um dos motivos por Gene Simmons estar todo putinho se deve ao fato dele ser velho. Muito velho. Ele é um dos representantes mais simbólicos do final dos anos setenta e da ascensão das gravadoras. Antes o status de rockstar ou artista milionário estava reservado para pessoas do naipe de um Jimi Page ou um Frank Sinatra. Mas no final daquela década as cifras se tornaram astronômicas e as vendagens ridiculamente altas. Depois, com a MTV, qualquer palhaço poderia ser uma estrela.

Esse cara por exemplo.

A conseqüência da produção em ritmo industrial de bandas, sucessos e videoclipes, foi o esvaziamento artístico e uma grande queda de qualidade. Admita os anos 80 podem ter sido divertidos, mas também foram ridículos.

Exatamente como o Boy George

A reação natural a essa mercantilizarão foi o Hip Hop e o Rock Alternativo. Ai a indústria jogou bem. Assimilou os estilos e os transformou em algo vendável para o grande público. Logo, as grandes ondas do inicio dos anos 90 foram o RAP e o Grunge, de início violentos e provocativos, depois tão farofeiros quanto o Deaf Leopard.

Um típico gangsta

Infelizmente, as gravadoras não lidaram tão bem com a próxima grande revolução musical, o Napster. Ao invés de aprender como lucrar com a ferramenta ou simplesmente agirem como o esperado e tentar monopolizar a troca de arquivos via internet, eles preferiram surtar e bater com a cabeça contra a parede.

VOCÊS ESTÃO FAZENDO O QUE?

Todas as tentativas de simplesmente eliminar os downloads se provaram furadas, Quando a indústria tentou se recuperar e aprender as regras do jogo, já era tarde. Não adianta, ninguém vai pagar por algo que pode se conseguir de graça. É uma regra do capitalismo servindo de arma contra ele mesmo.

Acima: A indústria fonográfica.

Apocalipse? Não muito na verdade. É só usar a lógica. As pessoas não comprariam noventa por cento do que baixam na internet. A razão por que elas o fazem é por que, bem, está ali, é só pegar. Por exemplo, eu baixei o Metal Machine Music do Lou Reed por pura curiosidade. Eu jamais pagaria 1 real por aquela merda que o próprio autor definiu que “se você chegar a segunda música, você deve ser retardado”.

E ele não estava sendo só modesto

Além disso, costumeiramente as pessoas não baixam um álbum completo, e sim músicas soltas. E isso não é nenhuma novidade. Reunir suas músicas favoritas em uma fonte alternativa e de graça, onde eu já vi isso?

Ninguém protestava contra as fitas K7 nos anos 80, era um lance romântico. Você não tinha um puto pra comprar um disco, colava na casa dos amigos e fazia uma coletânea. Ou então gravava as baladas mais melosas pra mina que você queria enrabar. Era uma época mais simples

Certeza que “More than words” vai fazer ela tirar a calcinha

Mas para mim, a maravilha da internet é a possibilidade de conhecer e pesquisar sobre artistas que você nunca iria ter acesso. Músicos novos aparecem graças à rede, incluindo a mal agradecida Allen, e bandas antigas podem ser redescobertas. Eu sou um fã maníaco de Stooges, uma banda que eu ouvi falar, conheci e ouvi pela primeira vez através da internet. E adivinhe só: Hoje eu tenho dois cd´s originais da banda e já fui a um show dos caras.

O show mais FODA da porra do mundo

O que eu quero dizer que os downloads não mataram ninguém. Eu adoraria que tivessem enterrados as gravadoras e livrado o mundo de artistas pré-fabricados por engravatados retardados.

As pesquisas apontam que lolitas de mini saia são a nova tendência

Se isso fosse verdade, a música deixaria de ser um negócio e voltaria para o controle dos artistas. Uma vez li pessoas criticando a idéia de regulamentar a profissão de escritor, dizendo que a literatura deve estar compromissada apenas com princípios artísticos, e não de mercado. Por que a música seria diferente?

Quem disse que é?

Mas a indústria fonográfica (quantas eu vezes eu já escrevi isso? Eu já contei umas 7) não está morta, sequer mal das pernas. Ela é esperta e tem muitas fontes de recursos. Os ídolos juvenis produzidos em laboratório continuam nascendo e sua imagem explorada em sitcoms infantis, produtos de beleza e revistas de fofoca

Aparentemente isso pode ser meio estressante.

Novas mídias surgem para engordar os pobres empresários, como os games de música e a própria venda individual de músicas via Ipod. Nunca antes na história as pessoas haviam pagado por uma única música. Também é preciso considerar que talvez o motivo das vendas de discos terem despencado foi por que as pessoas ficaram um pouco menos propensas a consumir qualquer merda com um único hit nas paradas.

A minha conclusão é a seguinte: A indústria fonográfica ainda vai nos torturar por algum tempo e músicos resistentes aos downloads ilegais ou são velhos assustados com uma nova estrutura ou crianças mimadas mais interessadas em encher o rabo de dinheiro do que fazer arte. E não se preocupem com a Lily, ela está fazendo shows e investindo na carreira de atriz. Fome ela nunca vai passar.

Mas se a situação apertar, pode colar que eu tomo conta