quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Batalha dos JUCAS

JUCA – Os Jogos Universitários de Comunicação e Arte. Evento em que estudantes se enfiam em um ônibus decrépito rumo a alguma minúscula cidade interiorana para quatro dias de bebedeira, cantoria e violência verbal randômica sob o pretexto de uma competição esportiva. Ocorrem todos os anos no feriado de Corpus Christi.

Algo assim, só que nós usamos laranja.

Como estudante de jornalismo da Metodista, compareci a três edições dos jogos, entre 2007 e 2009. O lance todo é muito representativo pra mim, simboliza muitas mudanças espirituais e de cortes de cabelo e eu sempre quis exprimir de maneira concreta a profundidade disso.

O que eu ganhei em peso, eu ganhei em estilo.

Após relembrar histórias com meus amigos, fracassar em explicar para a minha mãe o que é o JUCA e que aquele cheiro estranho foi parar na minha roupa por acidente e eu não tive nada a ver com aquilo e ver um vídeo infame do Kibe Loco, onde basicamente somos chamados de retardados alienados, eu me senti impelido a desvendar uma questão importantíssima. Afinal qual edição do JUCA foi a mais FODA? E mais, vai se fuder Kibe Loco, vai se fuder grandão.

Por que não ser alienado significa roubar piadas dos outros.

Para ter uma resolução científica desse problema, eu teria que fazer inúmeras pesquisas, entrevistar pessoas e levar em consideração todos os anos em que eu não compareci ao evento, mas isso daria trabalho demais. Por isso, elaborei um sistema mais simples: Eu invento tudo. É a minha opinião, totalmente parcial e subjetiva, moldada através das minhas experiências pessoais que irá decidir a questão. Dito isso, vamos aos critérios:

OS CRITÉRIOS

A base para a comparação serão os seguintes tópicos:

Viagem de ida e volta.

Alojamentos.

Transporte durante os jogos

Baladas.

As competições

Cervejadas.

E o último e mais importante: A cidade e o CLIMA de JUCA. As edições julgadas serão: Registro 2007, Guaratinguetá 2008 e Santa Rita do Sapucaí 2009.

VIAGEM (ida e volta)

Registro 07: A viagem de ida para Registro foi um sossego. O esquenta na porta do busão foi animal, depois de umas duas horas de piadas, gritaria e música todo mundo dormiu, para então acordar para reta final da viagem com mais piadas, gritaria e música. O tempo de viagem foi aceitável e o clima foi agradável. Obviamente, a merda tinha que acontecer na volta. Pra começar, os ônibus saíram cedo demais, e o domingo praticamente não foi aproveitado. Houve um engarrafamento gigantesco sob um sol infernal. Para meu infortúnio, não me preparei para a volta e simplesmente não possuía o álcool que iria tornar as coisas mais suportáveis. Também houve um ligeiro problema quando o motor de um dos ônibus pegou fogo. Calculo que a viagem durou umas 9 horas.

Guará 08: Nesta edição ocorreu algo incrível. Todo mundo dormiu a viagem inteira, na ida e na volta. O tempo de viagem era curto (umas 3 horas, bastante breve para padrões JUCA) e uma piscadela de bêbado custou o caminho todo. Na ida eu dormi abraçado com uma garrafa de Contini vazia, deitado no chão do ônibus. Na volta, dormi abraçado com um balde cheio de latas de cerveja. Acho que ida foi mais divertida, por que na volta eu dormi antes de beber a cerveja. Pelo menos todas elas.

Santa Rita 09: “Deus do céu, ainda não chegamos?”. Sem dúvida a viagem de ida mais traumática. Após algumas horas de entretenimento sadio (espalhamos um boato de que uma mina no ônibus era hermafrodita) todos dormiram felizes e esperando acordar na porta do alojamento. Eu acordei, ainda não havíamos chegado. Depois acordei de novo, nada. Acordei uma terceira vez, já havia amanhecido e nós estávamos numa estradinha em algum lugar de Minas Gerais. Os motoristas se perderam feio e a viagem não acabou antes que um imbecil vomitasse no corredor do ônibus (Não, não fui eu). O tempo total deve ter sido de umas 11 horas. Em compensação, a volta foi tranqüila, divertida e relativamente rápida. De certa foram, foi tudo ao contrário de Registro.

Acho que isso não estava no google maps.

O VENCEDOR É: Guará, numa analise lógica. Mas há o porém de que foram as viagem menos emocionantes, e num evento em que se busca diversão, diversão retardada se possível, isso conta contra. Se não fosse pelo motorista perdidaço, Santa Rita ganhava fácil.

ALOJAMENTOS

Registro 07: Sensacionais. Era imenso e o acesso a cozinha, banheiros e saídas eram fáceis. Eu e minha turminha descolamos um canto isolado do resto das barracas num quintalzinho perdido. Era uma vilinha feliz.

Você imaginou isso, não foi?

Guará 08: Bons, mas nem tanto quanto Registro. A escola era um pouco menor (eu já havia contado que os alojamentos ficam em escolas? Bom, então você descobriu agora) o acesso ao banheiro era através de um labirinto de barracas, o que pode ser perturbador quando se está com a bexiga e cabeça cheia de cerveja. A nossa vilinha ficou menos elaborada dessa vez, mas ainda era feliz.

Santa Rita 09: PUTA MERDA NÃO CABE MAIS NINGUÉM AQUI! O que eu posso dizer é que a escola era minúscula e os acessos para a saída e os banheiros não existiam, por que haviam barracas em qualquer lugar possível. Além disso, seguranças cretinos não queriam facilitar as coisas, num esquema retardado de “você não pode sair por aqui, saia pelo outro lado, lá onde é impossível chegar” que felizmente não durou mais de alguns minutos.

O VENCEDOR É: Registro, com folga.

TRANSPORTE DURANTE OS JOGOS

Registro 07: Foi de boa. Sempre havia o suficiente, sem muita demora. Os estádios ficavam um pouco longe do alojamento, mas não era impossível ir andando. Tudo OK.

Guará 08: Motivo de ódio eterno contra os organizadores. O nosso alojamento ficava complemente isolado do resto da cidade (eu deveria ter levado isso em consideração no tópico acima? É...) e era impossível ir a qualquer lugar sem os ônibus. O problema é que eles não estavam lá. Não havia o bastante para todo mundo, demorava horas pra sair do lugar, enfim, era uma trolha. A lembrança mais icônica de que eu tenho dessa edição é de estar sentando no meio fio, debaixo de um sol escaldante, morrendo de fome, esperando a porra do ônibus aparecer pra me levar de volta pro aloja.

Eu só quero comer um PF...

Santa Rita 09: Desnecessário. A cidade era um ovo e tudo era perto de tudo. Com exceção de um ginásio mais distante, onde eu fui uma vez só pra assistir uma partida bizonha de basquete feminino em que só se usava meia quadra, entre as titulares e reservas de Metodista. O time da FAAP perdeu de W.O.

O VENCEDOR É: Santa Rita. Por que não ter um problema é melhor do que ter uma boa solução.

BALADAS

Esse é um tópico problemático pra mim. Honestamente, sou contra as baladas no JUCA. Simplesmente não combinam com o quadro todo. O ideal seria uma cervejada prolongada pela madrugada, mas tudo bem. São três baladas por edição, na quinta, sexta e sábado. Eu nunca fui na de abertura. Eu tenho o ritual de dormir no final da tarde do primeiro dia pra me recupera da viagem. Eu fiz isso nas três edições. Por isso só irei analisar as baladas de sexta, organizadas pela Atlética da Metodista, e do sábado, organizadas pela Liga Universitária.

Registro 07: Balada da sexta foi OK. Aconteceu num pesqueiro, era fácil conseguir o grau e não estava muito cheio. A música era uma bosta. No sábado foi horrível. Muito cheio, open bar lotado, fila pro banheiro e a música era uma bosta.

Guará 08: Sexta: Não lembro. Me disseram que era legal e que a música era uma bosta. Sábado: OK. Não era tão difícil chegar ao open bar e teve show dos Opalas, o que compensou a música de merda do resto da balada.

Santa Rita 09: As duas foram no mesmo lugar e meu Deus, isso foi um erro. O lance é que choveu como no Velho Testamento na semana que antecedeu o JUCA, e para chegar na balada era preciso andar a pé por uns quilômetros por uma estrada de terra. Sacou a cena né?

Droga, vai arruinar meu vestido.

O lugar estava razoável na sexta e um horror no sábado, apesar do show do Molejo. Era impossível chegar no bar e fui embora no primeiro ônibus. Eu mencionei que a música era uma bosta?

O VENCEDOR É: Guará, pela falta de lembranças principalmente. Deus, eu odeio as baladas do JUCA.

AS COMPETIÇÕES

Registro 07: Sim, há jogos no JUCA! E eu os levo sério. Em Registro houve o deslumbramento natural por ser meu primeiro JUCA e ver a bateria, as bandeiras, os cantos... mas mesmo colocando em perspectiva foi animal. Eu pulei feito um demente em jogos em que eu não sabia nem remotamente o que estava acontecendo e fiquei rouco todos os dias.

Guará 08: Foi meio frustrante. Além da chateação para chegar até o ginásio, eu tinha a sensação de que as arquibancadas estavam tomadas de patricinhas e micareteiros que não sabiam o que o JUCA é de verdade.

Acho que vocês estão no lugar errado, retardados.

Não havia a mesma vibração do ano anterior. Não foi ruim, só não foi grande coisa. E nos jogos de futebol de campo, era impossível ficar na arquibancada por causa do Sol.

Santa Rita 09: Foi muito bom, mas poderia ter sido melhor por um único motivo. A prefeitura surtou e proibiu o consumo de álcool dentro dos ginásios. Não que isso nos impediu de beber de qualquer jeito, mas é um pouco complicado fazer coreografias de caranguejo quando se está tentando ficar fora da vista de um segurança indelicado.

O VENCEDOR É: Registro. Pelos motivos acima. OK?

CERVEJADAS

Registro 07: As do aloja foram ótimas, com a bateria e a putaria toda. As que ocorriam próximas ao estádio não eram grande coisa, mas quebravam o galho. Acho que é isso.

Guará 08: A mesma coisa que Registro. Até essa edição, eu não consideraria as cervejadas com critério de julgamento, mas...

Santa Rita 09: PUTA MERDA! FOI GÊNIAL! O mais legal é que o que era pra ser um desastre acabou como a maior sacada da história. A prefeitura de Santa Rita também surtou em relação a bebedeiras dentro de escolas primárias. Ou seja, nada de cervejada nos alojas. A solução? Alugar uma construção abandonada e transformá-la num castelo de alegria etílica.


É, eu sei. Lindo.

O castelinho ficava entre os alojamentos e os ginásios e estava abastecido com uma quantidade absurda de cerveja, disponível a quase qualquer hora do dia. Claro, depois de dois dias era impossível entrar lá, devido ao cheiro acre de vômito e cerveja velha. Mas ai nós já havíamos transformado a área da frente numa quase praia. Uma grande praia fedorenta.

VENCEDOR: Porra, alguma dúvida?

A CIDADE E O CLIMA JUCA

Como eu disse, a categoria mais importante, por que engloba todas as anteriores, mais a estrutura da cidade e mais um conceito abstrato saído da minha cabeça. Mas quem foi a um JUCA sabe do que eu estou falando.

Registro 07: A cidade era ótima, a integração entre as faculdades era razoável e o clima dos jogos foi animal. Eu e mais dois amigos andamos sozinhos em meio a uma centena de casperianos, xingamos todos eles, fomos xingados e ficou tudo numa boa. Estava calor, mas nenhum absurdo, e nossa vilinha feliz estava sempre a nossa espera. Foi um belo JUCA.

Guará 08: Nós ficamos longe de tudo, os ônibus estavam ridículos e o Sol estava bem sádico. Talvez você goste disso, mas eu sou um albino que fica extremamente rabugento em climas quentes e abafados. As cervejadas no aloja foram boas, as baladas também e no final das contas é impossível não se divertir no JUCA, mas esse não foi nenhum espetáculo.

Santa Rita 09: Essa edição tinha tudo paras ser trágica. A polícia chegou a vetar o evento e a prefeitura, como eu disse, surtou forte. Além disso, estava chovendo, o alojamento era insuficiente e as baladas ficavam num pântano. Mas eis que entra o fator CLIMA DE JUCA e o desse ano foi demais. Tudo era perto, as faculdades se hostilizaram lindamente, os jogos foram emocionantes, a comida era barata, e a cervejada no castelo garantiu o evento. O mais importante é que coisas bizarramente engraçadas não paravam de acontecer, como uma garota pulando num bueiro sem motivo algum e um grupo de estudantes tecendo comentários profundos sobre a pescaria de um ancião local.

Oh lá, ele vai dar o tranco agora.

E o clima fresco acabou sendo uma boa, pelo menos pra mim. Foi um JUCA muito foda e se foi o meu último, foi uma bela despedida.

O VENCEDOR DO TÓPICO E DA COMPETIÇÃO É: Santa Rita, emergindo como um azarão para vitória.

Acho que isso é um bom apanhado das minhas memórias juquenses. Não sei se estarei lá em 2010, mas tudo é possível. O que importa é guardar o sentimento que ficou e de saber do que se trata o JUCA afinal: liberdade, diversão, juventude e amizade.

E orgias. Muitas orgias.