domingo, 29 de novembro de 2009

Esboços, rascunhos e um monte de lixo que provavelmente não significa nada.

Galera, eu fiquei um tempão sem postar nada por aqui. Eu até tentei escrever algumas coisas, mas nenhum texto satisfez meu critério de nunca publicar merda. É por isso que, seguindo a lógica do teorema do macaco infinito*, eu resolvi juntar todos os esboços e transformá-los em um único grande texto. Apreciem!

* pesquisem na Wikipédia.

Terríveis verdades por trás de doces memórias infantis

Você se lembra da decepção que sentiu ao descobrir que a Vovó Mafalda era um homem? É um trauma de muitas pessoas da minha geração. Eu particularmente fiquei muito mais chocado quando descobri que os peixinhos do Glub-Glub eram uns sujeitos adultos usando uma máscara idiota.

Tirem essa imagem da minha cabeça!

A verdade é que a infância é um período de inocência e sonhos que serão impiedosamente esmagados ao longo dos anos. Alguns ícones dos meus tempos de criança se revelaram tremendos emaranhados de perversidade e corrupção.

Eu me refiro a coisas menos óbvias

Outro dia, enquanto embaralhava as cartas do Jogo do Mico, eu comecei a me sentir deprimido. Olha pra essa merda. Você tem uma floresta e todos os animais têm um par, menos o Mico. Ele é claramente um sujeito mentalmente perturbado, autodestrutivo e emocionalmente instável. E o que fazem por ele? O excluem como um pária. Ninguém tenta o escutar ou ajudar. Ninguém dá a mínima.

Pare de machucar a si mesmo e aos outros!

Pra continuar com primatas, outra coisa que marcou minha infância foram quadros esdrúxulos de macacos vestidos com roupas humanas. Você já deve ter visto um desses, aparecem chimpanzés vestidos de barman, boxeador e coisas do tipo.

Astronautas, por exemplo.

Eu achava aquilo hilário. Claro que aos cinco anos de idade é difícil realizar que macacos não gostam de usar roupas e aquilo era simplesmente um caso de tortura animal. Tortura animal não é hilário OK.

Por outro lado, tortura de crianças humanas...

Outra descoberta nojenta foi quando percebi o lixo preconceituoso que o adorável “Jogo da Vida” prega. O maldito tabuleiro é o maior panfleto reacionário da história.

Lixo ideológico

Não faça faculdade e seja condenado a sub-empregos o resto da vida. Você TEM QUE SE CASAR E TER FILHOS. E é claro, o vencedor do jogo é quem ganhar mais dinheiro. Pra completar o cenário infame, a frase que abençoa o derrotado:

“Você foi à falência. Vá morar numa fazenda e se aposentar como filósofo”.


Sugestões de Pauta

- Uma história em quadrinhos parodiando um filme policial estrelando figuras políticas brasileiras. A dupla de tiras seria José Serra, durão, intransigente e truculento, e Lula, carismático, irreverente e com um certo desdém pelas regras. O clássico bom tira/mau tira. O vilão seria Alckmin, um ex-policial que pirou e quer se vingar da policia para justificar suas ideologias ridiculamente estúpidas. José Alencar seria o delegado. Kassab um coadjuvante irritante. Ciro Gomes um policial esnobe. Sergio Cabral um imbecil

Por que eu não fiz isso? Não sei usar o Photoshop.

- Artigo “Os mais insanos sites pornográfico da internet”. Listar os sites com os temas mais bizarros, os fetiches mais ofensivos e sem sentido. Fazer comentários engraçadinhos e colocar imagens com legendas SUPER ENGRAÇADAS a cada dois parágrafos.

Por que eu não fiz isso? Eu meio que me distraí na hora da pesquisa... Er, quer dizer, eu achei que não era uma boa idéia.

- Artigo “O que eu aprendi sobre democracia trabalhando na Câmara”. Seria uma retrospectiva de eventos que presenciei durante meu estágio na Casa Legislativa de São Paulo, pontuado por comentários críticos sobre os processos políticos brasileiros.

Por que eu não fiz isso? Eu fiz e ficou ótimo. Só que eu ainda trabalho lá e não quero ser demitido pelas minhas opiniões levemente ofensivas sobre certas coisas. Não é como se eu tivesse me corrompido, eu apenas me silenciei em troca de dinheiro.


Listas, listas, listas...

Todo mundo gosta de listas, certo?

Motivos por que G.G Allin foi o verdadeiro rei do rock

10. Ele jogava merda em quem não gostava dele

9. Ele jogava merda em quem gostava dele

8. Ele fazia punk, pop, trash, country e ruídos de qualidades

7. “Drink, fight and fuck” é a música mais fudida da história da porra do mundo

6. A sua versão de “Pick me up on your way down” é linda de chorar

5. SEXO, DROGAS, MUTILAÇÃO E VÔMITO

4. Hated é um documentário foda

3. Ao contrário do Johnny Cash, ele cumpriu pena de verdade,

2. Seu show final é a maior atrocidade já filmada

1. Bite It, Your Scum

Meus gatos de estimação através da história

8. Farinha (1990 -95) Bom de briga, morreu por causa de uma delas

7. Felício (1996-96) Ficou duas semanas em casa. Babacão.

6. Juan (1997-97) Piradaço, sabia dar cambalhotas. Sumiu com uns sete meses e isso foi triste.

5. Lestat (1997) Sobreviveu a uma treta com um labrador. Ta vivão ainda.

4. Lucrecia (1997-2005) Tinha medo de abacates. Morreu por ser a coisa mais fofa do mundo. E de câncer.

3. Bituca (2002) A gata mais falante que já existiu. Sabe até latir. Tá dormindo no sofá.

2. Lancelot (2003) Gato persa. Dá a pata quando eu mando. Ta no meu colo no momento em que eu digito isso.

1. Petita (1995-99) Tecnicamente era uma cachorra, mas merece a menção. Está em algum lugar do céu dos cachorros, latindo com uma bola de tênis na boca.


Memórias do EMEI São Pedro

No terceiro ano eu era apaixonado por uma menina chamada Silvy ou algo assim. Eu subia no alto do trepa-trepa e pulava lá de cima. Eu era o único que tinha coragem. Eu era o que conseguia ir mais alto no balanço. Fazia tudo isso só pra impressioná-la, mas ela nem ligava. Quando a gente brincava de pega-pega, eu a deixava fugir de propósito. Ela me chamava de “branquelo leite-ninho”, mas eu ficava feliz só por ela estar falando comigo. Até que um dia ela disse que minha escultura de massinha era feia e boba. Na saída eu joguei uma pedra nela e ela chorou. Não amadureci muito desde então.

- FIM -

É isso OK? Semana que vem eu prometo um texto menos picareta

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Como os presidentes da redemocratização alteraram o curso da história (de Ricardo Casarin)

Democracia. Não é exatamente uma tradição nacional, mas nós já temos uma história razoável de eleições diretas, mandatos decepcionantes e bueiros entupidos por santinhos. Em nasci em 1987, o que significa que vivi sob o mandato de cinco presidentes diferentes. Agora iremos analisar como as decisões tomadas nestes governos afetaram, não o bem-estar da nação, mas os meus próprios interesses, não importando quão mesquinhos eles fossem.

Lula me obriga a deixar a marginalidade (ou quase isso)

Não sou exatamente um marginal. Eu sou mais um preguiçoso, e minha preguiça vai além de não gostar de acordar cedo e lavar a louça, ela inclui o desdém por possuir bens, contas bancárias, trabalho registrado e documentos.

Apenas um rapaz informal

Então tinha 20 anos, carteira de trabalho em branco, toda a grana que eu possuía estava no bolso de trás da calça e não me importava muito com nada disso. Eis que o presidente Luis Inácio da Silva assina a polêmica Lei do Estágio, garantindo a redução salarial de muitos jovens trabalhadores honestos, mas também forçando sujeitos como eu a ter um pouco de dignidade.

Quando eu consegui um emprego, tive que abrir uma conta bancária, assinar papéis que provavelmente significavam algo importante, emitir documentos, cartões, vales, e uma vez por mês eu me retorço e faço caretas ao ler meu extrato, exatamente como as pessoas adultas e responsáveis fazem.

Saldo final

É legal não correr o risco de ser enterrado como indigente ou de tomar um esporro da policia ao levar um enquadro e mostrar uma carteirinha do fã clube do Sonic na falta de um documento melhor, mas eu sinto um pouco de saudades daqueles tempos mais simples.

FHC me faz comprar o pior computador da merda do mundo

É 1999. Eu tenho 11 anos e não quero nada desse mundo a não ser um computador. Eu não tenho mais paciência para brincar de Playmobil, talvez de Lego, mas com certeza meu Mega Drive já está meio ultrapassado.

Minha mãe finalmente atende meus pedidos irritantes e fecha um orçamento de um PC firmeza, quando a catástrofe acontece. O dólar dispara, tudo fica caro e o mano da loja de informática não quer mais vender nada.

Na época eu acreditava que era apenas Deus me castigando por ter comido uma hóstia sem me confessar (Poxa, eu só queria me enturmar na paróquia), mas depois eu descobri que em uma manobra eleitoreira, o presidente Fernando Henrique Cardoso manteve o valor do dólar baixo até não poder mais, o câmbio explodir e a merda toda fuder tudo (essa analise é tão profunda quanto foi a dele na época)

O resultado disso é que acabei comprando um computador em um supermercado, e Jesus, isso foi um erro. O PC se revelou o pior pedaço de lixo já produzido pelo reino dos minerais. Era lento, instável e dava pau a cada cinco minutos. Baixar uma música demorava dias. Eu nunca consegui desligar o computador direito. Ele simplesmente travava a hora que ele queria, não importava o que eu estivesse fazendo.

Sinto muito, mas não posso permitir que você jogue FIFA.

Após QUATRO ANOS como aquele pedaço de metal imprestável, a situação chegou a um ponto trágico. Depois de nove tentativas de instalar o Kazaa, todas abortadas pela máquina maldita, eu tive um reação quase razoável: atirei o computador na parede. Quando fui religá-lo, aconteceu um curto circuito e a porra pegou fogo. Mil espíritos atormentados emergiram das chamas e garras infernais arrastaram a carcaça de silício para uma eternidade de horrores. A minha mãe também me deu uma puta bronca.

Saldo Final

Puta merda. Além do prejuízo, eu desenvolvi uma raiva crônica contra eletrodomésticos. Basta uma torradeira atrasar meu lanche, e eu começo a bater com a cabeça nela. O lado bom é que eu desenvolvi um senso critico para comprar as coisas, mas sinto que meia década de tortura tecnológica não era necessária para isso.

Itamar introduz um sistema monetário inteligível para uma criança de 6 anos

Ok, eu sei. O autor do Plano Real é o FHC, mas ele foi introduzido no governo Itamar Franco, então foda-se. O lance é que eu tinha cinco, seis anos e não tinha a menor idéia do que as etiquetas do supermercado queriam dizer. Eu não entendia o que as notas que minha avó me dava significavam. O que eram todos aqueles zeros? Puta merda, 35 000 cruzeiros, o que é isso? E eu nem era burro. As crianças do parquinho faziam rodinhas pra me assistir a contar até cem, por que eu era o único da turma que conseguia.

Desde 1992, um exibicionista

Então um dia a professora da 1° Série aparece com uma nota verde com um ‘1’ estampado e explica como lance funciona. É tão simples! Números que eu conheço! A maior nota é 100! Agora eu sabia exatamente quantos Kinder Ovos eu podia comprar com o dinheiro do lanche.

Saldo Final

Muito bom. Eu e uma geração de fedelhos nos tornamos consumistas ativos aos sete anos e poderíamos contestar nossos pais na hora em que alguma compra desejada fosse negada. Espera... er, isso parece meio perverso... pensando bem.

Collor arruína o natal, mas garante a diversão de ano-novo

Ah, Fernando Collor. O mais jovem presidente da história. Primeiro a ser eleito por voto direto após a ditadura, o que já seria um belo argumento contra a democracia no Brasil, sem precisar levar em conta que o último tinha sido Jânio Quadros, um homem que acreditava que a caspa era um bom cabo eleitoral.

Forças ocultas operavam a sua mente, isso sim.

Graças ao fracasso completo do Plano Collor, o país entrou em recessão. Meu pai foi demitido das Tintas Ypiranga e isso foi uma merda total. Todo natal eles davam brinquedos pra mim e pra minha irmã. Eu ganhe um triciclo sensacional no último ano. Com meu pai desempregado e a poupança seqüestrada, o Natal não foi exatamente um festival de presentes.

Mas houve uma compensação. Às vésperas do ano-novo, rolou a votação do impeachment no Congresso. Foi um dos dias mais divertidos da minha infância. À tarde eu fui a uma manifestação “Fora Collor” no centro de São Bernardo. Eu ganhei bexigas, bandeirinhas, fui incentivado a berrar xingamentos e ainda vi um carro alegórico com um bonecão do Collor na lata do lixo. Foi um carnaval.

À noite, a votação foi transmitida pela televisão, e eu só veria algo parecido alguns anos depois, na final da Copa do Mundo. Eu não sabia direito o que estava acontecendo, só que era bom quando alguém gritava ‘SIM’ no microfone e muito ruim quando alguém dizia ‘NÃO’. No final, os bons venceram, teve fogos de artifício e um monte de gente feliz. Boas lembranças.

Saldo Final

Foi bom. Uma bela lembrança infantil. E eu não tenho a menor idéia de como foi o natal naquele ano, então não houve traumas. Meu pai arrumou um emprego e tudo terminou OK.

Sarney é basicamente o responsável pela minha existência

1986. O caos reina. A inflação bate recordes. A vida é difícil. Minha mãe quer ter mais um filho. Meu pai diz: “Você tá louca”. A história poderia ter acabado aí, mas do Planalto surge algo – O PLANO CRUZADO. Dinheiro começa a ser imprenso adoidado, todo mundo no Brasil fica rico! Meu pai não tem mais argumentos. O milagre da vida acontece. OI MUNDO.

Seria uma bela história de como um governo bem gerido afeta positivamente a vida dos cidadãos comuns, mas é isso aqui é BRASIL. O Plano Cruzado do presidente Sarney foi uma furada. A produção não acompanhou o aumento no poder aquisitivo da população. Os produtos ser tornaram escassos. A inflação voltou. Mas aí, eu não podia voltar junto.

Saldo Final

Essa é uma questão existencial, certo? Nietzsche dizia que a pior coisa que pode acontecer a um homem é nascer. Minha vó dizia que viver é uma benção. Sei lá, eu poderia ficar com as duas opções. Sem dúvida, dever a própria vida a José Sarney é uma situação um tanto quanto dúbia.

O legado econômico brasileiro dos anos 80