Houve uma época em que crianças não desperdiçavam seus dias na internet, falando merda no MSN, praticando bullying virtual no Orkut e se exibindo para pedófilos na twittcam. Elas desperdiçavam seus dias na frente da TV, vendo Xuxa, Sessão da Tarde e novelas. Não era tão ruim. Eu tenho boas lembranças daqueles tempos. Personagens marcantes como Tonha da Lua, Dona Armênia e seus três filhos, Gino, Gerson e Gera; minha avó falando com os atores como se eles pudessem ouvi-la através da televisão; e é claro a maior história de amor de todos os tempos, entre o mecânico Raí e a manicure Babalu.

Mas além desses bons momentos, houveram estranhas preciosidades que só poderiam ser oferecidas pela teledramaturgia brasileira. Momentos bizarros que ainda me perseguem após anos de saudável distância da televisão aberta.
Bem óbvio, mas não poderia ficar de fora. Na pequena cidade de Resplendor, o fotógrafo Jorge Tadeu, interpretado por Fábio Junior, se divide em duas atividades: comer todas as mulheres possíveis e urinar em uma planta na praça da cidade. Isso até alguém matar o sujeito. A morte de Jorge Tadeu se torna o grande mistério do país de Fernando Collor. Afinal quem era o assassino? Algum corno provavelmente.

O absurdo entra em cena quando a plantinha regada diariamente pela urina do fotógrafo se torna uma enorme árvore carregada de flores após ser atingida por um raio. Muito para o desgosto dos homens da cidade, as viúvas de Tadeu formam um culto ao redor da árvore. Então uma delas tem a idéia de comer uma flor e recebe a visita de falecido. Então é claro, ocorre necrofilia espírita no horário nobre.
Eu não lembro exatamente como a história terminou, mas acho que outro raio atinge a árvore e destrói ela, ou algo assim. Então pra compensar, assistam a essa cena epicamente bizarra da mesma novela, aonde o vilão Cândido Alegria fala com o diabo, explode e vira pedra.
Eu não lembro exatamente como a história terminou, mas acho que outro raio atinge a árvore e destrói ela, ou algo assim. Então pra compensar, assistam a essa cena epicamente bizarra da mesma novela, aonde o vilão Cândido Alegria fala com o diabo, explode e vira pedra.
Eri Johnson gótico idolatra um pedaço de pão
A autora Glória Perez é famosa por levar temas e polêmicas atuais para as tramas de suas novelas. E por atuais eu quero dizer com ao menos uma geração atraso. Ela misturou islamismo e clonagem em “O Clone” e internet e ciganos em “Explode Coração”. Aqui o lance é transplante de órgãos, góticos e Victor Fasano rebolando de sunga.
Osmar Prado apalpa bosta de galinha (por culpa de Antonio Fagundes)
Tião Galinha (Osmar Prado) interessado em possuir os mesmos poderes, pergunta a Inocêncio como arrumar uma parada dessas. A receita que ele passa é: colher um ovo de galinha preta no momento em que ela botar, sem deixar que ele toque o chão. O ovo deve ser chocado por um sapo e dele nascerá o capetinha. O lance é que Inocêncio comprou a garrafinha com o demônio de plástico na feirinha e só diz essas merdas pra causar com Tião. O que ele não imaginava é que o cara seria ingênuo a ponto de ficar dia e noite com uma galinha preta debaixo do braço a espera do ovo, pondo em risco seu emprego, casa e casamento.

Burrão. Todo mundo sabe que o truque é enfiar um facão no pé de jequitibá
Após zoar com Tião por uns tempos, a galera começa ficar a preocupada com a sanidade mental do caboclo, até que alguém sugere que ele caiu numa pegadinha de Inocêncio. Ah, mas essa cabra fica uma fera! Irado, ele exige satisfações. O personagem de Fagundes escapa da situação colocando um ovo debaixo da galinha preta, sem que Tião visse, afirmando que ela acabara de botar. Tião lamenta seu azar afirmando: “Depois de tanta bosta que ela soltou na minha mão, foi justo agora que ela botou”. Eu tinha seis anos e chorei de rir por que alguém tinha acabado de dizer “bosta” na televisão.
Raul Cortez e sua bad trip sinistra
Novela: Mulheres de Areia (1993)

Eu vou estar nos seus sonhos. Eternamente